 Ilustração: Beto Soares/Revista Proteção
Ilustração: Beto Soares/Revista Proteção
"Apesar  da omissão do governo federal, na última década o país avançou no  processo de capacitação e substituição progressiva por fibras  alternativas, com opções seguras que atendem tanto às especificações  tecnológicas quanto às de proteção da saúde humana e do meio ambiente". É  o que explicam Ana Lucia Gonçalves da Silva e Carlos Raul Etulain  durante a entrevista que concedida por email à IHU On-Line, sobre os  impactos econômicos da proibição do uso do amianto no Brasil. "Falta ao  país uma legislação nacional que proíba claramente o uso de todo tipo de  amianto, como já o fizeram quatro estados brasileiros: Pernambuco, Rio  Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo", defenderam.
Ana Lucia  Gonçalves da Silva é doutora em Ciência Econômica pela Universidade de  Campinas. Atualmente, é professora no Instituto de Economia desta  instituição. Carlos Raul Etulain é graduado em Economia pela Universidad  Nacional de Rio Cuarto (Argentina), com mestrado em Ciência Econômica e  doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp, onde atualmente é  professor.
IHU On-Line - Quais foram as principais descobertas do estudo realizado pela Unicamp a respeito do amianto?Ana  Lucia e Carlos Raul - Em primeiro lugar, cabe esclarecer que a pesquisa  realizada pela Unicamp, além de ampla revisão bibliográfica dos estudos  existentes, se apoiou em um minucioso levantamento dos dados  estatísticos disponibilizados pelo Departamento Nacional de Produção  Mineral - DNPM.
Foi realizado um grande esforço de construção de  séries estatísticas de variáveis importantes para a análise econômica:  produção, exportação, importação e consumo interno. No caso dos dados de  produção, procurou-se identificar o seu destino (para exportação e para  consumo interno) e, no caso do consumo interno, identificou-se a origem  do atendimento (parcela do consumo atendido por importação e parcela  atendida por produção interna). Tudo isso, exigiu um trabalho cuidadoso  com as estatísticas disponibilizadas pelo DNPM em suas diversas  publicações, que, aliás, frequentemente apresentam dados discrepantes.
Estes  esclarecimentos são importantes para se entender a relevância das  descobertas que os dados permitiram revelar, entre as quais se pode  destacar: o grupo Eternit é o maior consumidor brasileiro da fibra de  amianto nacional (produzida pela sua empresa coligada, a Sama Minerações  Associadas). Esse grupo responde por aproximadamente 44% do consumo  interno de amianto. Como não realiza importações desta fibra, toda essa  demanda é canalizada e atendida pela Sama. Desta forma, estima-se que  cerca de 64% da produção da Sama destinada ao mercado interno refere-se a  consumo cativo do próprio grupo Eternit.
Em outras palavras, o  grupo Eternit, além de detentor do monopólio na produção da fibra de  amianto no país, é também seu principal consumidor. Estas considerações  reforçam o papel central do grupo Eternit na viabilização do necessário  banimento do amianto no Brasil, que vem sendo postergado há tantos anos.  Sua responsabilidade neste processo aumenta ainda mais, quando nos  lembramos que foi o grupo belga Eternit o primeiro a banir o amianto dos  seus produtos no mundo. De fato, no início dos anos 1980 a Eternit  (Bélgica) foi pioneira no movimento pela substituição do amianto,  decidindo abolir o uso dessa fibra até 1990 e substituí-la por outros  produtos, especialmente petroquímicos sintético
Antes disso, em  1976, prevendo o banimento, a Eternit belga criou o programa Nova  Tecnologia (NT) com o objetivo de se adaptar aos novos tempos. O grupo  investiu pesado na substituição do amianto em suas 32 fábricas em todo  mundo. Dois anos depois já vendia produtos sem amianto na Europa,  utilizando produtos petroquímicos sintéticos.
Infelizmente, com a  venda da filial brasileira para novos donos (brasileiros), a mesma  postura não foi assumida no Brasil, mas mostrou que é possível, em prazo  relativamente curto, promover as adaptações necessárias à substituição  do amianto por fibras alternativas. Realizadas de forma pioneira nos  anos 1980, estas adaptações são hoje em dia relativamente simples,  podendo ser efetivadas em menor período de tempo.
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