O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) prevê  para  o dia 12 de junho a publicação do relatório técnico que indicará as   alterações na portaria que definiu os critérios necessários para que as   unidades de armazenamento de grãos e fibras recebam certificados de   qualidade. "A comissão técnica, formada por representantes de toda a   cadeia produtiva, revisa todos os 17 requisitos da norma para   flexibilizar aqueles que são de mais difícil execução", afirmou o   coordenador-geral de Infraestrutura Rural e Logística de Produção do   Mapa, Carlos Alberto Nunes. 
Segundo ele, um dos objetivos  principais da revisão é facilitar a  adaptação de armazéns mais antigos,  que exigem mais investimento,  através do alongamento dos prazos para a  realização das adaptações  técnicas, estruturais e tecnológicas que  garantam, entre outras coisas,  a redução das perdas. Inicialmente, a  normativa previa a certificação  de 25% das unidades (ou da capacidade  estática de um complexo) a cada  ano. 
A partir de 2012, como informou  Nunes, a certificação deve cobrir  15% das unidades por ano.  Ricardo  Núncio, assessor técnico da Fecoagro, explica que as  cooperativas são  as que têm enfrentado as maiores dificuldades na  adaptação, já que  muitas possuem estruturas muito antigas, com mais de  40 anos de uso.  "Alguns prédios foram construídos com fundo chato,  outros com fundo  vertical, características que dificultam a eficiência  de equipamentos de  termometria e aeração exigidos pela norma. Então,  muitas vezes é  preferível desativar um armazém antigo e construir outro  mais moderno",  ponderou.
Outra questão levantada pela norma técnica que esbarra  no histórico de  muitas cooperativas é o licenciamento ambiental, que  avalia o impacto  no entorno urbano. Núncio lembra que muitas cidades  desenvolveram  bairros populosos nos arredores das unidades armazenadoras  que,  originalmente, ficavam em zona rural e até hoje mantêm níveis de   emissão de materiais particulados e ruídos incompatíveis com a nova   realidade. Segundo as estimativas do ministério, cerca de 600  unidades  armazenadoras estão certificadas ou em processo de certificação  no  País, que tem 17.447 armazéns segundo os registros da Companhia   Nacional de Abastecimento (Conab). "Não temos uma meta anual de unidades   por certificar, até porque esse é um processo que demanda  investimentos  por parte das empresas e cooperativas, mas esperamos um  crescimento na  adesão", disse Nunes. 
Uma das cooperativas gaúchas que já  concluíram o processo é a  Cooperativa Agrícola Mista Aceguá (Camal, de  Bagé). "Temos apenas uma  unidade, com capacidade para estocar até 40 mil  toneladas. Tivemos que  investir na identificação dos ambientes, na  construção de sanitários  para os visitantes, em itens de segurança do  trabalho e na instalação  de exaustores. Temos ainda um prazo para  instalar os equipamentos de  termometria", descreveu o gerente agrícola  da entidade, Hartmut Hubert. Segundo ele, a etapa mais trabalhosa  foi descrever todos os  procedimentos que precisaram ser incluídos no  regulamento interno que,  por sua vez, tiveram de ser registrados na  Junta Comercial.
O gerente agrícola da Camal estima que a  cooperativa, que reúne cerca  de 1,5 mil associados, investiu R$ 100 mil  no processo. A etapa mais  cara, detalhou Hubert, foi o cercamento da  área da unidade, o que  demandou a construção de um muro e a substituição  das cercas de arame  antigas. 
Os valores tendem a ser até 90%  mais baixos para os processos mais  recentes, em função da entrada de  novas empresas certificadoras no  mercado e da formação de mais auditores  pela Universidade Federal de  Pelotas (entidade credenciada pelo Mapa).  Levantamentos feitos pela  Fecoagro em 2010 apontam que o valor cobrado  pelas empresas  certificadoras girava em torno de R$ 4 mil por unidade,  enquanto até  2008 a média do mercado era de R$ 40 mil. Gerente da Cesa diz que falta de mão de obra qualificada é o maior entrave. 
Engenheiro-agrônomo,  responsável técnico, fiel depositário, carregador,  operador de  equipamentos e auxiliar de escritório são algumas das  funções previstas  pela norma que rege a certificação das unidades  armazenadoras. A  contratação de pessoas qualificadas para as atividades  é, na avaliação  do gerente da Companhia Estadual de Silos e Armazéns  (Cesa), Luis Carlos  Oliveira, um dos principais entraves do processo.
"A dificuldade  maior que nós temos, e que é comum aos demais  armazenadores, é a  contratação de mão de obra qualificada, que pela  norma não pode ser  terceirizada. Faltam profissionais no mercado e o  número de pessoas  trabalhando por unidade varia de acordo com as  safras", observou.
O  gestor estima que são necessários, no mínimo, seis profissionais por   unidade armazenadora. Com isso, as empresas gestoras dos 4.380 armazéns   espalhados pelo Estado terão que treinar seus colaboradores ou fazer   novas contratações para preencher adequadamente os 26.280 postos de   trabalho. Oliveira, que é auditor de armazéns formado pela  Universidade Federal  de Pelotas, ponderou que, apesar do entrave que a  exigência significa  num primeiro momento, a alocação de pessoas  treinadas para cada  atividade garante a qualidade do serviço prestado.  Segundo ele, a  qualificação profissional é o diferencial que assegura a  operação  adequada dos equipamentos, o correto manuseio dos grãos e o  controle de  pragas eficiente.
"Ganha o consumidor. Com a  estrutura funcionando bem e os registros  sendo feitos de forma correta, a  norma cria uma rastreabilidade até  agora inédita na comercialização de  grãos", disse ele.
Na avaliação do gerente, a boa safra de arroz e  soja colhida pelo Rio  Grande do Sul em 2011 tornou o momento ideal para  canalizar os recursos  para os investimentos necessários em armazenagem e  para o treinamento  de pessoal. Aplicação, lembra Oliveira, que nos  últimos 28 anos vem  sendo feita exclusivamente por indústrias,  cooperativas e produtores.  "Desde 1983 que o governo do Estado não  amplia a capacidade de  armazenamento da Cesa".
Para executivo da Kepler Weber, estocagem não acompanhou a evolução da lavoura brasileira
Nos  últimos 15 anos, a capacidade produtiva das colheitadeiras em  atividade  no Rio Grande do Sul quintuplicou, sem que a estrutura para o   recebimento de grãos nas unidades armazenadoras nas fazendas tenha   crescido na mesma proporção. Na avaliação do superintendente da Kepler   Weber, Tadeu Vino, esta discrepância gera uma situação absurda ao   colocar a colheita em ritmo de espera. "Muitas vezes a máquina que custa   uma fortuna fica parada porque já não tem espaço na fazenda e também   não tem caminhão para levar o produto até a indústria", descreveu Vino,   ao lamentar que a cada safra o País volte a usar os caminhões como   depósito.
Esta realidade é confirmada pelos dados da Companhia  Nacional do  Abastecimento (Conab), que apontam que apenas 13,71% dos  armazéns do  País estão nas fazendas. As demais unidades - coletoras,  intermediárias  e finais - estão divididas entre a zona rural (35,78%),  urbana  (44,23%) e portuária (6,28%). Pior ainda. O Brasil tem capacidade  total  de armazenagem de 137,3 milhões de toneladas (entre armazéns   convencionais e a granel), enquanto a safra 2010/2011 deverá ultrapassar   a produção de 157,4 milhões de toneladas.
Os registros da Conab  apontam a existência de 17.447 armazéns no País,  sendo que a maior parte  (75,06%) é privado. As cooperativas administram  20,63% das unidades  armazenadoras e apenas 4,31% integram a rede  oficial. O Rio Grande do  Sul é o terceiro estado do País em número de  unidades armazenadoras.  Existem 4.380 armazéns no Estado, com  capacidade de estocar 24,5 milhões  de toneladas. A maior capacidade  estática está instalada no Paraná, que  comporta estoques de 27,5  milhões de toneladas, distribuídos em 3.559  armazéns. Em seguida está o  Mato Grosso, com 2.120 armazéns com  capacidade para guardar 26,9  milhões de toneladas.
A Kepler  Weber, que detém 55% do mercado de silos, estima que no último  ano o  incremento da capacidade estática de armazenagem do País foi de  3,41  milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, as vendas do setor   incrementaram a capacidade estática de armazenagem em 682 mil toneladas   em 2010. "A carência de estrutura de armazenagem no Rio Grande do Sul é   antiga, mas o fato ganhou mais ênfase neste ano porque as safras de   arroz e de soja foram recordes. Além disso, temos estoques de passagem,   ou seja, produtos colhidos em outros anos que permanecem nos silos -  uma  realidade marcante do setor orizícola", afirmou Vino.
O  superintendente da Kepler Weber percebe que as exigências técnicas da   normativa de certificação já movimentam o mercado, embora ainda   discretamente. Segundo ele, todas as unidades instaladas nos últimos   anos são equipadas com os itens apontados como essenciais pela regra do   Ministério da Agricultura, como balança e termometria. Vino afirma que,   em muitos casos, a adaptação de unidades antigas é complexa e cara, o   que levou muitas cooperativas a argumentar, junto ao Ministério da   Agricultura, que a reforma não é vantajosa economicamente. "Em alguns   casos, sai mais barato construir um silo novo, que inclusive pode ser   encaixado no Programa de Sustentação do Investimento (PSI), uma linha de   crédito do Finame que em sua primeira edição tinha juros subsidiados  de  4,5% ao ano. Agora, na terceira etapa, o PSI prevê juros um pouco   maiores, mas ainda subsidiados, de 6,5% ao ano para pequenos produtores e   de 8,7% para os grandes", detalhou. Cooperativas gaúchas já iniciaram as mudanças, mas queixam-se da dificuldade de acesso ao crédito.
 A  revisão das normas do Ministério da Agricultura permitirá um   escalonamento dos investimentos, o que, na avaliação do gerente   operacional da Cotrijal, Laides Porto Alegre, facilitará a certificação   das unidades. A cooperativa do Noroeste do Estado planeja certificar 21   unidades armazenadoras até 2017 - cinco delas, ainda neste ano.
"Na  nossa visão, a certificação fortalece a relação do setor  armazenador  com o setor produtivo e com a sociedade em geral, porque  aumenta o  profissionalismo na atividade e reduz as perdas em todas as  etapas, como  o recebimento, a padronização, a armazenagem e a  expedição. São regras  que dão segurança nos procedimentos  operacionais", afirmou.
Segundo  Porto Alegre, a Cotrijal já vinha modernizando as unidades  antes da  publicação da normativa, o que reduziu o número de adaptações   necessárias à certificação. Para a Cotrijal, a principal mudança foi   cultural, imposta com a unificação de procedimentos e a intensificação   do treinamento dos 400 funcionários que trabalham diretamente nas   unidades armazenadoras da cooperativa - que atende 14 municípios.
A  certificação de três ou quatro unidades ao ano foi a estratégia  adotada  para implementar os procedimentos com recursos próprios. Outras   cooperativas, porém, não conseguem escapar de um problema apontado por   Ricardo Núncio como um dos principais obstáculos para a adesão à   certificação: o crédito. "Falta acessibilidade ao crédito e linhas   específicas para as cooperativas. Grande parte das entidades tem   problemas financeiros e isso dificulta a execução de grandes   investimentos", observou. 
A flexibilização dos prazos é também a  aposta da Cooperativa Tritícola  Santa Rosa (Cotrirosa). Segundo o  engenheiro-agrônomo Jairton Dezordi,  seis unidades devem ser  certificadas ao longo dos próximos anos, mas o  processo de implantação  já começou. "Uma facilidade que temos é o fato  de já possuirmos os  equipamentos mais caros em nossas estruturas, o que  vai baratear a  adequação", disse ele, ao observar que grande parte do  investimento será  feita na qualificação dos funcionários.